Sistema de pagamentos eletrônicos lançado pelo Banco Central, o Pix vai adquirir novas funcionalidades a partir de agosto. Com o Pix Saque, o cliente poderá retirar dinheiro em espécie em qualquer caixa de lojas, supermercados ou outro estabelecimento comercial. E com o Pix Troco, o correntista terá a opção de pagar um valor superior ao das suas compras e obter o retorno da diferença em moeda. Por enquanto, de acordo com a autoridade monetária, as transações estão limitadas a R$ 500 diários. A intenção é de que não haja cobrança de tarifa para os clientes se forem feitas até quatro transações por mês. As mudanças no Pix podem ser discutidas desde ontem, quando o Banco Central abriu uma consulta pública sobre o tema. O prazo para envio de comentários termina em 7 de junho e, dependendo do resultado, algumas regras e procedimentos ainda podem mudar. Até as 20 horas de ontem, a página do BC havia recebido mais de 130 comentários.

O objetivo das duas modalidades, de acordo com o BC, é oferecer mais conveniência ao consumidor, ampliar a capilaridade do serviço em todo o país e aumentar a competição nas transações eletrônicas com o Pix. Essa última finalidade atende particularmente às instituições financeiras de pequeno porte que não têm rede própria ou ATMs (caixas eletrônicos 24 horas). Segundo Ângelo Duarte, chefe do Departamento de Competição e de Estrutura do Mercado Financeiro do BC, o Pix, que entrou em operação em novembro de 2020, teve uma boa adesão. Em abril deste ano, mais de 478 milhões transações ocorreram por meio do sistema de pagamento.

Entretanto, ainda há muito espaço para o meio digital evoluir. No sistema bancário nacional, 77% dos pagamentos são em espécie, 12% no cartão de débito, 7% no cartão de crédito, 1% no cartão pré-pago e 3% em outras modalidades, como vale alimentação, cheque, boleto, débito automático ou transferências. Tanto o Pix Saque quanto o Pix Troco estão disponíveis para qualquer participante do meio de pagamento eletrônico.

De novembro de 2020 a maio deste ano, as transações com Pix se multiplicaram por mais de 13 vezes. No início, foram 34 milhões, subiram para 145 milhões em dezembro. Em janeiro de 2021, se elevaram para 200 milhões. No mês seguinte, foram 275 milhões. Em março pularam para 394 milhões e, em abril, teve salto de 21,3%, para 478 milhões de transações mensais, pelos dados do BC.

Contradição

A intenção do BC é continuar incentivando as negociações eletrônicas. “O objetivo continua sendo tirar o dinheiro de circulação. Mas quando se está nesse processo de eletronização, é preciso dar para a população o sentimento de que a qualquer momento ela vai poder sacar os seus recursos e utilizar o papel moeda. Se não tiver isso, ela vai resistir ao processo eletrônico”, explica o chefe adjunto do Departamento de Competição e de Estrutura do Mercado Financeiro, Carlos Eduardo Brandt. Para quem já tem Pix, os procedimentos são semelhantes. O usuário vai precisar estar com o celular logado em sua conta bancária.

Roberto Luis Troster, ex-economista-chefe da Federação Brasileira de Bancos (Febraban) e sócio da Troster & Associados, acredita que a iniciativa ajuda os consumidores. Mas lembra que um em cada quatro brasileiros não tem acesso à internet. “Esse é o papel do BC, mas o país precisa focar em banda larga para todos”, reforça. O lado positivo é que as novas modalidades de Pix vão ao encontro da cultura nacional. “Esse tipo de saque ou de troco já foi muito utilizado, por exemplo, com os cheques. As pessoas iam a um posto de gasolina e pediam para fazer um cheque com valor maior”, descreve Troster.

Para o varejo, a medida também é positiva, na análise de Fábio Bentes, economista-chefe da Confederação Nacional do Comércio, Bens, Serviços e Turismo (CNC). “Traz muitas vantagens e reduz o custo operacional de bancos, com o enxugamento de estruturas e do uso do dinheiro físico. Para o comércio, alinha-se às necessidades dos novos tempos, aumenta a segurança nas transações e diminui a demanda por transporte de valores. E também aumenta a possibilidade de trazer o cliente para dentro da loja”, afirma Bentes.

A microempresária Patrícia Barros, 28, de São Luís, destaca a praticidade como um dos principais motivos que a levaram ao serviço digital. “Uso semanalmente e acho de grande praticidade nos pagamentos e nas transferências”. Ela diz estar animada com as novas propostas do BC. “Poder sacar o dinheiro em espécie vai ser válido e será mais um benefício do aplicativo para os usuários. A questão do troco também vai facilitar muito. Não sabia que teria a possibilidade desses procedimentos. Ótimo, principalmente para uso diário, porque eu trabalho com vendas”, comemora.

O estudante de língua estrangeira Vitor Oliveira, 22 anos, morador do município de Novo Gama (GO), também aprova. “Eu uso o Pix umas três a cinco vezes por semana. O serviço facilitou a vida, pois o dinheiro cai na hora e não importa o horário. Geralmente, uso mais em compras, para pagar os amigos ou em contas de restaurante e bar”, afirma. Wedisley Gomes, 22, utiliza diariamente o Pix no trabalho como subgerente administrativo, em Valparaíso de Goiás (GO). “Os novos recursos do Pix vão facilitar ainda mais e incentivar muitas empresas que não possuem esse tipo de prática. Será agregador para os consumidores e usuários”, comenta.

Segundo o modelo em estudo pelo Banco Central, a máquina do caixa do comerciante vai apresentar um QR code para o cliente escolha quanto quer sacar. No Pix Saque, em vez de receber um produto, ele fica com o dinheiro em espécie. No Pix Troco, é preciso fazer uma compra. Na hora de pagar, ele digita um valor maior e recebe a diferença.

Mas embora o lojista tenha a possibilidade da transação, ele não é obrigado a ter dinheiro em caixa. O comerciante tampouco sofrerá punição caso não tenha os recursos disponíveis. Ele pode, ainda, definir dias e horários em que o saque ou a troca serão feitos, ou os valores das cédulas (R$ 10, R$ 20, R$ 50 ou a combinação de todas) de acordo com a sua conveniência.

Fonte: Correio Braziliense

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