O reajuste médio de 5,5% na tabela do frete anunciado há duas semanas vai custar R$ 1,09 bilhão ao comércio brasileiro até o fim deste ano, segundo cálculo da Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo (CNC) obtido com exclusividade pelo Estadão/Broadcast.

O resultado deve ser um achatamento da margem de lucro dos negócios. Diante do cenário de atividade econômica fraca, os comerciantes não terão espaço para repassar a elevação do custo com transportes aos preços das mercadorias vendidas aos consumidores, avaliou Fabio Bentes, chefe da Divisão Econômica da CNC.

“A grande consequência é o sacrifício da margem, investimentos mais fracos e menos contratações de funcionários”, diz Bentes. “Alguns comerciantes vão acabar repassando para os preços, mas outros não vão conseguir e vão ter que sacrificar margem. Isso vai afetar a recuperação, a abertura de lojas e a geração de vagas. Tudo fica mais lento com esse gatilho de custo do comércio.”

Os gastos com serviços de frete representam 10,5% das despesas anuais do comércio, mas em alguns segmentos a logística supera 20% dos custos totais do negócio. As atividades mais penalizadas serão as atacadistas de matérias-primas, de combustíveis e de alimentos.

“Realmente nesse momento de capacidade ociosa muito elevada na economia isso tende a diminuir o repasse para os preços ao consumidor”, diz José Ronaldo de Castro Souza Júnior, diretor de Estudos e Políticas Macroeconômicas do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea). “Temos que ver se essa medida será duradoura ou não. Pode ser que o próximo governante faça alguma alteração, ainda não sabemos se haverá manutenção dessa medida.”

A nova tabela com os valores mínimos do frete em todo o território nacional, divulgada no último dia 5, corrige a primeira versão editada em 30 de maio para atender a uma das principais exigências feitas pelos caminhoneiros durante a greve que bloqueou estradas pelo País ao longo de onze dias no fim de maio. O cálculo da CNC considera apenas a última elevação na tabela do frete e não prevê novos aumentos até o fim de 2018.

“Como o comércio está no fim da cadeia, o custo é acumulado: a mercadoria já chega com preço mais elevado, que vem desde o fornecedor primário (produtor agrícola ou industrial)”, ressaltou Bentes.

No comércio atacadista, as despesas com a logística de mercadorias têm uma participação maior nos custos das empresas, de 15,4%. No varejo, o frete responde por 6% dos custos, enquanto no comércio automotivo o peso é de 5,1%. No comércio atacadista de combustíveis e lubrificantes, o transporte responde por 23% dos custos.

O empresário Guilherme Neves, de 52 anos, conta que paga de frete 10% do valor das mercadorias que vende. Dono de uma loja de produtos artesanais no principal polo comercial popular do centro do Rio, ele vende de queijos mineiros a doces pernambucanos. “Tenho um acordo com outros 20 comerciantes da região, juntamos a encomenda e pagamos o preço do frete por unidade, se fosse por peso seria pior. Mesmo assim, pagar 10% de frete é coisa para caramba. O pequeno comerciante se lasca todo.”

A CNC estima que as despesas com frete somaram R$ 50,7 bilhões em 2017 considerando todas as empresas comerciais brasileiras, sendo R$ 35,0 bilhões no comércio atacadista, R$ 13,6 bilhões no varejista e R$ 2,2 bilhões no automotivo.

Ainda que nenhum outro reajuste seja autorizado na tabela até o fim deste ano, o impacto dos gastos adicionais com fretes corresponderá a um acréscimo final de 0,6% nas despesas totais do comércio em 2018. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

Fonte: correiobraziliense.com.br

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